Entre ações e precauções

(Conteúdo complementar da reportagem “Fluidez contra a crise” publicada em EmbalagemMarca 197, janeiro de 2016)

A crise vivida no Brasil é uma chance de investimento para os fabricantes locais de produtos embalados. Não para aportes em novas instalações ou em novos bens de capital, convém esclarecer, mas em melhorias de processos capazes de gerar economias e ampliar a competitividade. O engenheiro Ivando Antunes dos Santos, diretor da QPC Consultoria Industrial, e Fabio Caires, especialista em materiais da Smarttech, empresa de engenharia e simulação no desenvolvimento de peças técnicas, falam de medidas que podem ajudar indústrias a tornar suas operações mais eficientes.

 

Ivando Antunes dos Santos – QPC Consultoria Industrial

Os fabricantes brasileiros de bens não duráveis operam em níveis satisfatórios de eficiência produtiva?

Penso que não. Isso decorre em parte do mix de produtos comercializados e da característica dos equipamentos existentes nos parques industriais, que não permitem flexibilidade na operação de manufatura. Essa constatação física da falta de competitividade é evidente quando se compara os preços dos produtos nacionais com os dos similares importados. Atribui-se grande parte da culpa aos custos advindos das baixas eficiências e deficiências na utilização dos recursos.

 

Quais os problemas mais comuns que dificultam a obtenção de níveis ótimos de produtividade? Qual é a incidência de gargalos relacionados m especificamente a operações de embalagem?

Isso se dá pelo aumento crescente da diversidade de produtos e a diminuição do ciclo de vida dos mesmos, aliados à pressão por prazos de entrega menores, que vêm forçando exponencialmente a quantidade de preparações dos equipamentos e facilidades. A indisponibilidade aumenta, consequentemente piorando a eficiência produtiva.

 

Como resolvê-los?

De maneira geral, falamos de parques industriais antigos, concebidos para grandes lotes de produção e baixa variedade de produtos. Não há saída a não ser investir em melhorias dos recursos produtivos. Há duas formas básicas de avançar nessa frente. A primeira, mais cara e mais fácil de implantar, é o investimento em tecnologias mais adequadas à volatilidade dos novos perfis e ciclos dos produtos. A segunda, mais barata, é mais dependente da competência gerencial dos recursos e do investimento que a empresa faz em consultoria para ajudar na implantação da metodologia na cultura da empresa, adequando os recursos existentes a nova realidade. É a opção mais trabalhosa, mas a mais inteligente e duradoura para que o problema não volte a se repetir.

 

A procura por consultoria para aumento de eficiência/produtividade tem aumentado nos últimos meses?

Sim, a procura por metodologias para administrar e melhorar a disponibilidade operacional dos equipamentos, principalmente na melhoria dos tempos de preparação dos equipamentos (setup) vem num crescendo em todos os segmentos dos fabricantes de bens não duráveis.

 

Fabio Caires – Smarttech

Os fabricantes brasileiros de bens não duráveis operam em níveis satisfatórios de eficiência produtiva?

Observamos empresas desse tipo trabalhando, em geral, com uma boa ideia de controle de processos, com boa atenção ao que acontece no chão de fábrica. O que enxergamos são oportunidades de esses negócios anteciparem eventuais problemas, visualizá-los ainda na fase de projeto. Em outras palavras, não serem pegos de surpresa na hora em que o produto está sendo envasado, tampado ou despachado. Esse cuidado de antever possíveis percalços no momento do uso das embalagens é algo que pode evoluir. É uma precaução importante, porque em fases mais avançadas pode ser muito caro consertar o projeto, ou ele pode estar mesmo engessado. Ou seja, não oferece condições de ajustes.

 

Quais os setores mais conscientes da importância da validação técnica dos projetos?

Tradicionalmente, o setor automotivo sempre nosso maior cliente. Mas a procura por fabricantes de bens não duráveis, para validação de embalagens, tem aumentado. Calculo que, hoje, 10% dos clientes sejam fabricantes de alimentos, bebidas, cuidados pessoais, cosméticos e insumos agrícolas. Temos feito avaliações estruturais de embalagens, como tampas, frascos e potes injetados, principalmente para a área de cosméticos.

 

Qual o tipo de avaliação requisitada?

Não posso revelar nomes, por questão de confidencialidade, mas já fizemos alguns trabalhos interessantes nessa área. Entre eles estão avaliações da interação entre frasco e tampa, a garantia de que está tudo certo com a chamada batocagem. Ocorre que muitas empresas constatam problemas já com os moldes e ferramentas de produção prontas. Como eu disse, a necessidade de ajustes é pega na hora de envasar, de montar. Somente nessa hora é observado um vazamento, por exemplo. Isso poderia ser previsto muito antes, por meio de um exame dos desenhos técnicos, por meio do CAE (Computer Aided Engineering), com simulações virtuais em computador.

 

Que outros problemas podem ser visualizados antes da confecção inadequada do ferramental?

Além do nível de vedação, podemos fazer ensaios de compressão, do chamado top loading, isto é, da resistência ao empilhamento que uma embalagem terá. Vemos muitas empresas trabalhando em cima do molde pronto, engrossando a peça, criando espessura, fazendo algumas interações, para que chegue no pé da máquina e seja empilhado para verificar o resultado. A gente consegue fazer isso antes, por meio virtual, ver o que acontece com a embalagem de baixo. Isso tudo permite que você mexa no molde, faça ajustes prévios, sem ter de gastar com molde-piloto, protótipos.

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