Nas cascas, marcas e outras marcações

Tecnologias baseadas no laser prometem valorizar frutas e legumes, permitindo seu rastreamento

Por Guilherme Kamio

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Tenho relatado, em reportagens de EmbalagemMarca e em artigos publicados no site da revista, iniciativas da indústria e do comércio para diminuir, em graus sem precedentes, o uso de embalagens em seus modelos de negócios. Podemos acrescentar a esse quadro uma tecnologia recentemente demonstrada no exterior: a impressão a laser em frutas e legumes.

A ideia é gravar dados como data de colheita, origem, validade e marca do produtor diretamente nas “embalagens naturais” dos produtos, isto é, suas cascas e peles. Tal solução substituiria com vantagens as etiquetas com códigos de barras ou com marcas que alguns produtores aplicam nos alimentos.

Um benefício óbvio é a marcação indelével, que contornaria o problema de desprendimento das etiquetas durante a distribuição. “O conceito garante rastreabilidade total de frutas e vegetais, em nível unitário, até sua chegada à mesa do consumidor”, afirma Stephane Merit, diretor de vendas da espanhola Laser Food. A empresa desenvolveu uma solução do gênero em conjunto com pesquisadores da Universidade de Valencia.

Na inovação, um feixe laser executa as marcações através de despigmentações da camada superficial dos alimentos, e não pelo “entalhe” por calor das cascas e peles – que poderia avariar e abreviar a vida útil dos vegetais. A área despigmentada recebe então um líquido de contraste, composto por óxidos e hidróxidos de ferro, que tornam as inscrições visíveis.

Autoridades europeias de vigilância sanitária confirmaram que o processo não acarreta riscos para o consumo, e em junho de 2013 deram sinal verde para sua adoção. Pouco antes, o FDA (Food and Drug Administration) autorizara nos Estados Unidos uma tecnologia similar, desenvolvida pela Durand-Wayland, fornecedora de sistemas de embalagem para o agronegócio, em conjunto com a Sunkist, grande produtora de frutas cítricas.

De acordo com a Laser Food, o método de gravação direta pode ser facilmente integrado às packing houses dos agricultores. Ao eliminar a cadeia de suprimento dos insumos para a aplicação de etiquetas, a tecnologia garantiria uma economia aproximada de 35% no consumo de energia. Asseguraria, também, mais agilidade de resposta a demandas do mercado. “O produtor não depende de estoques de componentes para, por exemplo, atender a um pedido de última hora”, diz Merit. “Além disso, o software de gestão dos equipamentos codificadores (produzidos pela Maxfrut) garante modificações rápidas dos dados a gravar, tolerando formatos infinitos de marcações e permitindo a realização de promoções pelo setor hortifrutigranjeiro.

Com informações claras sobre procedência e orientações para o consumo, os produtos tendem a ganhar credibilidade junto aos compradores. Para grandes polos de produção de frutas, legumes e verduras como o Brasil, soluções como essa não poderiam ajudar nas exportações? Tudo leva a crer que sim. O desafio é convencer as cadeias de valor da produção rural de que esse tipo de tecnologia, de última hora, vale a pena.

Guilherme Kamio é jornalista e editor executivo de EmbalagemMarca.

 

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