Embalagens de medicamentos protegem ingredientes ativos e evitam falsificações

ARTIGO

Realizada trienalmente em Düsseldorf, na Alemanha, a Interpack consolidou-se ao longo das últimas décadas como uma das principais mostras mundiais de tecnologia de embalagem. Previamente a todas as montagens da feira, sua organizadora, a Messe Düsseldorf, divulga uma série de artigos técnicos, destacando tendências e oportunidades que poderão ser constatadas in loco pelos visitantes. Confira o primeiro documento distribuído com vistas à edição de 2014. Em destaque estão soluções para a indústria farmacêutica.

 

Novas embalagens de medicamentos protegem ingredientes ativos e evitam falsificações

O mercado de produtos farmacêuticos está mudando. Biofármacos sensíveis exigem invólucros mais robustos. A falsificação deve ser evitada por meio de selos e códigos especiais. E características adicionais de embalagem são necessárias para que os pacientes possam, por conta própria, administrar medicações com segurança. As empresas farmacêuticas e o setor de embalagem enfrentam desafios enormes

Quando o mercado farmacêutico ainda era dominado por medicamentos de grande sucesso, a vida era uma moleza para os laboratórios: eles desenvolviam substâncias ativas que podiam ser utilizadas para tratar um grande número de pacientes e produziam, aos milhões e em processos de massa padronizados, remédios contra males bastante difundidos como pressão arterial elevada e diabetes. Ano após ano, as grandes multinacionais faturavam bilhões.

No dispositivo de revestimento: Para assegurar que o vidro não interaja mais tarde com o produto, é aplicada uma camada de proteção no interior de uma máquina especial. (Foto: Schott PP / Tobias Hauser )

Mas os tempos estão mudando. “O mercado de biofármacos com ação seletiva e maior potência cresce em importância. Cientistas estão se aprofundando na bioquímica e na identificação de novos objetivos”, explica Klaus Raith, da Sociedade Alemã de Farmacêuticos. A Visiongain, empresa britânica de pesquisas de mercado, confirma essa tendência. De acordo com seus levantamentos, as vendas anuais de biofármacos avançam na casa dos dois dígitos e um aumento contínuo é previsto para os próximos dez anos. Isso tem forçado as empresas farmacêuticas a adaptar-se. Algumas biomoléculas prontamente se decompõem, ao passo que outras são extremamente agressivas e atacam as superfícies das embalagens primárias. Recipientes com propriedades de barreira aprimoradas e maior resistência ao impacto são, portanto, necessárias a fim de proteger, de maneira confiável, substâncias preciosas. Processos de produção mais flexíveis também são requisitados, para dosar com precisão até mesmo quantidades ínfimas de substâncias ativas.

Paralelamente, os fabricantes de fármacos têm de salvaguardar melhor os seus medicamentos contra a falsificação. Sob a nova Diretiva Anti-Falsificação da União Europeia, praticamente todos os medicamentos sujeitos a receita médica terão de ser fornecidos a partir de 2017 com um número de código único e uma característica mostrando que a embalagem exterior não foi adulterada. Falsificações de remédios estão se tornando uma ameaça cada vez maior para os pacientes. Segundo estudos da Organização Mundial de Saúde, a taxa de falsificação entre os medicamentos vendidos através de sites duvidosos já é de 50%. A autoridade aduaneira coloca a cota de fármacos falsificados na Europa em 10%. Ninguém está a salvo da contrafação. Produtos espúrios e diluídos podem ser encontrados não só no segmento de bem-estar, mas em toda a gama de medicamentos, inclusive antigripais.

 

O paciente é rei

Questões como a automedicação e a segurança do usuário estão se tornando cada vez mais importantes. Injeções que só os médicos costumavam dar agora podem ser ministradas pelo próprio paciente. Para evitar ferimentos, agulhas de segurança embutidas retraem-se imediatamente após a aplicação. As embalagens do futuro serão ainda mais versáteis. A fabricante de embalagens sueco-finlandesa Stora Enso e a Universidade de Tecnologia Chalmers, de Gotemburgo, por exemplo, estão desenvolvendo um invólucro “inteligente” para simplificar a comunicação entre pacientes e médicos. A embalagem registra com precisão quando um comprimido é removido. Se a prescrição do médico não for seguida, o paciente recebe uma mensagem de texto – retransmitida para um telefone celular, por exemplo. Tais soluções consumer-friendly exigem um difícil ato de equilíbrio dos fabricantes de produtos farmacêuticos, que têm de integrar recursos extras e ao mesmo tempo manter os custos sob controle.

A pressão para cortar custos é repassada pela indústria farmacêutica ao setor de embalagens. “As exigências de hoje no setor de produtos farmacêuticos são difíceis – tanto em termos de inovação quanto em aumento de eficiência da cadeia para redução de custos”, explica Richard Clemens, diretor da Associação de Processamento de Alimentos e Máquinas de Embalagem no âmbito da Federação Alemã de Engenharia (VDMA). Por isso, desenvolvedores trabalham a todo vapor em novas soluções de embalagem e melhorias em equipamentos para a produção de medicamentos. “Os fabricantes de produtos farmacêuticos precisam de soluções que lhes deem novo espaço de manobra para a produção”, diz Christina Rettig, porta-voz da Schott, especializada em recipientes de vidro para o setor farma. A empresa desenvolveu ampolas de vidro especiais para medicamentos biotecnológicos, dotados em seu interior de um revestimento superfino de dióxido de silício. Para o revestimento, a Schott faz uso de um processo de deposição química de vapor, no qual, após a reação de um gás precursor com oxigênio, a altas temperaturas, as moléculas de silício são depositadas sobre a parede de vidro. “A camada de silício impede interações da proteína com a superfície da embalagem e a adsorção de proteínas. Biofármacos sensíveis permanecem, assim, estáveis”, explica Christina. Soluções inovadoras como essas serão apresentadas pela Schott na Interpack 2014, feira de embalagens programas para ocorrer em Düsseldorf, na Alemanha, de 8 a 14 de maio do próximo ano.

Garrafas plásticas de múltiplas camadas são uma alternativa às ampolas de vidro. Alguns polímeros conseguem alcançar transparência similar ao do vidro, mas protegem biofármacos até melhor, dado que suas superfícies não são atacadas por medicamentos líquidos alcalinos e dificilmente contêm substâncias orgânicas capazes de causar alterações em bio-substâncias. Por outro lado, tais polímeros são relativamente caros, e por isso a indústria tem hesitado em utilizá-los até agora.

 

Cada embalagem é singular

Progresso também foi conquistado na luta contra a falsificação. A alemã August Faller, fabricante de embalagens farmacêuticas secundárias, desenvolveu códigos de barras, séries alfanuméricas e códigos Data Matrix para cartuchos de papel cartão e rótulos para a codificação serial de materiais de embalagem. A companhia utiliza a tecnologia de jato de tinta para imprimir as embalagens com as informações de série do produto, possibilitando o rastreamento dos remédios desde sua saída da fábrica.

Prevê-se que a demanda por soluções de identificação cresça rapidamente nos próximos anos. A securPharm, organização guarda-chuva para cinco associações de distribuição de produtos medicinais, pretende estabelecer em 2017 um sistema baseado em códigos Data Matrix para se proteger contra medicamentos falsificados. A ideia é que os fabricantes de medicamentos torne cada embalagem única ao imprimi-la com um código Data Matrix quadriculado contendo um número singular. Os números seriam armazenados em um banco de dados compartilhado pelos fabricantes. Na farmácia, o código de cada pacote seria então digitalizado e conferido no banco de dados antes que da entrega do medicamento ao paciente. Como essa verificação leva apenas alguns segundos, os produtos falsificados seriam rapidamente identificados. O sistema já passou por testes práticos envolvendo 280 farmácias, 24 empresas farmacêuticas colaboradoras, mais de 3,5 milhões de embalagens de medicamentos marcados e mais de 30 000 autenticações, relata Reinhard Hoferichter, porta-voz do Conselho Executivo da securPharm. “Com as novas embalagens codificadas para remédios selecionados, conseguimos acessibilidade do sistema em 99,5% do tempo.”

Fabricantes de máquinas se ajustaram bem às novas exigências do setor de produtos farmacêuticos. Novos equipamentos de produção que processam e acondicionam medicamentos mais rapidamente e de forma mais flexível ajudam os laboratórios a compensar os altos gastos em embalagens mais elaboradas e em recursos complementares, com redução de custos na produção. Para a identificação e rastreamento de medicamentos, a italiana Marchesini, especialista em automação, desenvolveu uma solução de track-and-trace cujo módulo de impressão é capaz de imprimir 400 cartuchos por minuto a partir de ambos os lados e por cima com diferentes etiquetas de segurança. Uma câmera então verifica e confere os códigos. Os dados são finalmente armazenados num grande servidor central de onde podem ser recuperados a qualquer momento, tornando assim as coisas excepcionalmente difíceis para os falsificadores.

 

Produção mais eficiente

A fabricante alemã de máquinas Bausch + Ströbel também está oferecendo agilidade para as empresas farmacêuticas. “Na produção de produtos biofarmacêuticos modernos, é cada vez mais importante alcançar precisão altamente constante no processo de enchimento, com elevada eficiência e disponibilidade da máquina em condições de esterilidade. Estamos investindo fortemente em inovação, qualidade e tecnologia de processo para que possamos continuar a oferecer aos nossos clientes as melhores soluções possíveis”, diz o diretor Hagen Gehringer. Inovações da empresa incluem uma máquina de rotulagem totalmente automática que rotula garrafas a uma taxa de até 21 000 unidades por hora e permite mudanças de bobinas sem interromper a produção.

A Bausch + Ströbel ea especialista em sistemas de inspeção Visiotec também desenvolveram uma tecnologia que permite o controle contínuo de processos de enchimento sem prejuízo da cadência de produção devido ao nível elevado de escrutínio. Durante a produção de medicamentos, 100% de verificações durante o processo são muitas vezes necessários, pois é essencial garantir que proporção precisa de substância ativa esteja contida em cada frasco, seringa ou carpule. Normalmente, frascos cheios são removidos do processo fabril e pesados, o que reduz assim a taxa de produção. Em vez disso, o novo método da Bausch + Ströbel e da Visiotec utiliza sensores que verificam os frascos no processo em curso e, assim, mantém a alta velocidade  da máquina.

A fabricante de equipamentos Fette Compacting, do Norte da Alemanha, também está empenhada em maior velocidade e flexibilidade. Ela agora afirma que a prensa de mesa rotativa recentemente adicionada à sua gama de produtos proporciona trocas de produção mais rápidas do que qualquer outra solução em sua faixa de desempenho. A substituição do rotor, principal componente da máquina, é alegadamente feita em apenas quinze minutos. Em prensas convencionais existentes, esse processo pode demorar mais de uma hora. O rotor transporta as câmaras de enchimento que controlam mecanicamente o movimento dos punções e asseguram que os comprimidos sejam prensados com precisão. Para alterar o rotor, sempre foi necessário desenroscar muitas peças individuais. A Fette concebeu o componente em segmentos maiores, de modo que ele possa ser substituído mais rapidamente.

O que se constata é que o setor de embalagens oferece um número crescente de inovações para a indústria farmacêutica. Na Interpack 2014, os visitantes poderão adquirir suas próprias impressões detalhadas. Aproximadamente 1 100 dos cerca de 2 700 expositores confirmados para o evento já manifestaram a intenção de apresentar soluções para essa importantíssima atividade industrial.

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